domingo, 27 de novembro de 2011

Noir: Intrigas e Girls With Guns em alto estilo


Conspirações e intrigas internacionais, lutas no escuro, assassinas excepcionais, tiros e mais tiros. Lembra mais um roteiro para seriado televisivo norte-americano do que um anime, certo? Pois então bem-vindo à Noir, animação do Bee Train que inaugura a trilogia Girls With Guns do estúdio. Preparados para um clássico de suspense, alto estilo e trilha sonora imbatível?

(Postagem sem análise de final desta vez - afinal, Noir não é um anime cheio de teorias para como Wolf's Rain, por exemplo. Spoilers free, com uma ou outra referência que não revela nada sobre o enredo em si.)

Noir é uma animação lançada em abril de 2001 pelo estúdio Bee Train, com direção de Koichi Mashiro (fundador e principal diretor do estúdio), roteiro de Ryoe Tsukimura e - destaque especial - trilha sonora de Yuki Kajiura sim, esse nome já virou presença frequente aqui no blog *apanha*. Como já foi dito, é o anime que inaugura a trilogia Girls With Guns do estúdio - em sequência viriam Madlax (2004) e El Cazador de La Bruja.

A história envolve a assassina profissional Mireille Bouquet, que une forças com a jovem amnésica Kirika Yumura para desvendar segredos do passado de ambas. As duas tornam-se alvos de uma organização conhecida apenas como Les Soldats, responsável por manipular a vida das moças desde antes de seus nascimentos, e passam a agir em sua busca sob um codinome notório no submundo e que nomeia um destino antigo: Noir.

Kirika Yumura, portadora do peso de um passado perdido...

Em primeiro lugar: Noir exala estilo do começo ao fim, mais do que enredo. O que não significa que temos uma obra fraca de história, na verdade temos algo que cumpriu o que pretendeu do começo ao fim, sem inconsistência de ritmo nem de roteiro.

O estilo de que falo está presente na parte técnica em geral: os cenários são bem caracterizados, o character design é elegante e a música... Marcante demais. As composições de Yuki Kajiura são ambiciosas (embora o recente Fate/zero ainda não mostrou muito disso), e sério, vocês não vão enjoar de ouvir Salva Nos em quase toda cena de ação.

Falando das cenas de ação, elas são tremendamente elaboradas e realistas, com uma coreografia que, aliada a trilha sonora exuberante, deixam uma certa sensação eletrizante. Não há alívio cômico, nem diálogos exaltados; apenas uma ação fria sustentando um forte drama psicológico e intenso desenvolvimento das protagonistas que será explicado um pouco mais adiante.

A única coisa a se questionar durante a animação é que quase não há sangue. Sim, o tempo todo temos Mireille e Kirika atirando em mais e mais assassinos, criminosos e guerrilheiros, mas não há o menos sinal de sangue escorrendo nem mesmo de marcas de tiros. Isso ocorreu devido à censura televisiva, mas ainda assim o roteiro encontrou uso para isso: os raros momentos em que se vislumbra sangue ele é usado no contexto de morte de algum personagem em particular. Embora eu acredite que não seja um uso tão impactante.

Mireille Bouquet, marcada pela tragédia familiar

Mas é no aspecto de direção e enredo que a série divide opiniões. O roteiro principal não chega a ter linhas e desenvolvimentos tão complicados, embora exija uma certa dose a mais de atenção às intrigas de cada episódio e nas conspirações dos Soldats. E o que Noir gosta de desenvolver com força mesmo é o drama psicológico entre as personagens; a questão é que a forma como isso é feito é que incomoda ou entendia alguns.

Digamos que Koichi Mashiro aplica aqui uma direção lenta, bem lenta. Por mais de metade da série a trama é levada de forma episódica e pouco avanço na linha principal é feito. O fato é que essa execução pretende levar o expectador ao envolvimento com as protagonistas, que terão sua relação e personalidades destacadas e evoluídas constantemente; é impossível não notar as etapas pelas quais Mireille, a assassina adulta, madura e mais responsável, e Kirika, inicialmente em um estado frio e misterioso a lá Rei Ayanami, passam em sua convivência e seus questionamentos sobre o que cada uma realmente é ou representa em um enigma maior; sem falar na adição progressiva de outras possíveis antagonistas, que só tem a acrescentar ao mosaico de conflitos e personalidades. Esse ritmo é coerente e prima por não ter falhas no enredo, encaixando todas as peças perfeitamente, mas para alguns pode ser cansativo e trazer uma vontade de que a série tivesse menos episódios. (Particularmente, acho que apenas uns dois episódios a menos já deixava um pouco melhor, cortar mais do que isso é correr o risco de prejudicar o desenvolvimento já citado).

A única coisa que mesmo os fãs assíduos da série não podem negar como negativa é o uso repetitivo de alguns flashbacks. Sério, difícil achar alguém que não canse de ver a todo instante a cena da infância da Mireille, ou a constante ênfase ao relógio de bolso (ponto importante de ligação entre as duas assassinas) - por sinal com uma musiquinha de tom estridente que chega a ser irritante (o pior ponto da trilha sonora, notavelmente).

Segredos sobre os Soldats neste cobiçado papel...

No final das contas, Noir é um entretenimento estiloso que, apesar de sofrer algumas censuras absolutamente desnecessárias, deve interessar a um público mais maduro devido às etapas de desenvolvimento psicológico, ao passo que deve afastar o público mais voltado a séries leves e de ação mais energética. De certa forma já pode ser considerado um clássico, e quem estiver a fim de uma trama psicológica forte com toquezinho ocidental e suspense incessante, vai encontrar uma ótima jornada aqui. E a trilha sonora dispensa repetições de quão fantástica é, claro.

E não nos esqueçamos que em 2012 será transmitida a versão live action do anime na televisão americana - e eu acredito que uma obra dessas pode ser bem produzida nas mãos dos estadunidenses. É esperar para ver.

7 comentários:

  1. Saudações


    Julgando pelo seu texto, Mary, se faz possível concluir que Noir não é um anime para todos assistirem, infelizmente.

    Em primeiro lugar, tem-se a questão da falta de ação frenética na série. Não há eventos que prendam a atenção do público convencional, sendo este um grande fator para afastar o mesmo.

    Mas Noir é uma obra que, em minha opinião, prende a atenção. Ela possui um fator de análise do enredo muito alto. Não é variado (chega à ser bem linear), mas não vejo isso como um demérito para a obra.

    Como colocaste, trata-se de uma obra estilosa.

    Ótima análise.


    Até mais!

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  2. Este comentário inclui spoilers:

    Olá!
    E tentarei topificar meus argumentos,que são:

    1.Pelo fato de retratar o umiverso de uma jovem desmemoriada é cabível que os flashbacks sejam parte importante e frequente da história à la agente Bourne.

    2.Quanto ao sangue,assassinas bem treinadas como elas são mais precisas e não concluem suas missões fazendo os inimigos "sangrarem como porcos".Aqui o fato de não superestimar sangue ou tomar conhecimento da censura ajuda a avaliar a série por outro aspecto.

    3.O fato de ter muitas missões seria uma forma "ferramentada" de como os agentes deste tipo são usados sempre que deles se precisem.

    Enfim,minha única experiência com 'Girls with Guns' foi "Cannan" de 13 episódios a qual recomendo.
    Em "stand by" para conferir o mundo das agentes de "Noir".

    Bye!

    P.S.: Gostaria de elogiar(e já elogiando) seu artigo como forma de "convite nominal"(e também já explicando implicitamente o que poderia encontrar)à realidade de Noir,assim como similarmente fez a "Wolf's Rain".

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  3. @Carlírio

    Justamente, a ação é carregada de suspense mas não possui ritmo frenético. Dentro do público "padrão" de anime, muitos não conseguem se adequar ou aproveitar plenamente este estilo.

    @Anônimo

    A questão do sangue é mais por, por exemplo, algumas cenas mostrarem um sujeito caído de costas após levar um tiro no peito, mas não haver visível sequer uma marca de tiro na roupa. Mas acho que é melhor deixar isso de forma mais clara no texto. ^^

    Obrigada pela atenção ^^

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  4. Ohayou Mary Vanucchi!

    Primeiramente agradeço à gentileza de responder a um "Anônimo",pois o costume por aí é ignorar,diferente deste caso.
    Quanto ao sangue acho melhor não entrar neste mérito porque sendo mais uma "particularidade" não tenho muito a argumentar já que não vi ainda o anime,tendo seu comentário adicional reforçado e explicitado mais claramente o ponto de vista das mortes.
    E por último também havia citado "Cannan(lê-se Cánan)e caso algum dia pense em fazer deste artigo um pontapé inicial para uma quadrilogia de "Girls with Guns" reforço à indicação.

    Boa Sorte e bye!

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  5. Não achei outro lugar então vim por aqui pedir parceria para o http://folhanerd.blogspot.com/

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  6. Olá Mary Vannuchi!E como prometido,cá estou.


    --- Spoilers em discussão sobre questões a refletir sobre Noir.: ---

    1- Censura: O sangue e ferimentos mais condizentes fazem falta em determinados momentos,entretanto vejo muitos atenuantes com os cortes de câmeras,ângulos,mudança de cenário devido as perseguições e o clima da música,principalmente nas "Canta per me" e "Salva nos".
    2- 'Episódico': Pela cadência dos confrontos e ascendência de nível e as variáveis envolvidas.Cantei logo essa pedra: "Treinamento e Desafios."
    3- Flashbacks: Os interpretei pela ótica de Mireille Bouquet e Kirika Yumura.Levando-se pela reação causada nas mesmas antes e depois dessas lembranças,conclui que fossem parte de um enorme trauma,razão essa que poderia deixar o som tão forte,pertubador e 'distorcido';além da mesma perspectiva desse fato/e o fato em si se suceder assim que algo o engatilhasse.

    --- Fim dos Spoilers em discussão sobre questões a refletir sobre Noir.: ---

    Conclusão: Depois de ver o anime,o review ainda pareceu melhor.Devido também a ficar mais claro que Noir é de nível elevado,onde o deapreciar mais que o apreciar seria um questão pessoal de 'restrição de gosto'.No teu caso,como citou está como uma das "joias ocultas" da animação japonesa,né mesmo? =D


    Bye,por enquanto..!

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    Respostas
    1. Bom saber que gostou do anime (e que apreciou mais o review). ^^

      A maior graça de alguns animes episódicos é quando cada caso acaba parecendo justamente com treinamentos e desafios, como você mencionou. O desenvolvimento dos personagens acaba parecendo bem sutil.

      Sobre os flashbacks, essa perspectiva do trauma que eles representam é válido e até apreciável, mas a meu ver a repetição excessiva acaba parecendo aquele tipo de música que você gosta mas ouve tanto que quer parar de ouvir por um tempo ou ouvir com menor frequência.

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