domingo, 4 de março de 2012

Hotarubi no Mori e - Que as memórias daquele verão durem para sempre


Se tem um estúdio que tem se destacado de forma extremamente positiva em seus métodos de adaptar histórias é o estúdio Brains Base. Conhecido por obras como Baccano!, Durarara!! Mawaru Penguindrum e Natsume Yuujinchou, o estúdio tem se mostrado cada vez mais eficiente em produzir séries com alcance a um grande público mas que consigam manter uma muitas vezes excepcional qualidade narrativa - e com o filme Hotarubi no Mori e, adaptação de um one-shot shoujo da mangaká Yuki Midorikawa publicado em 2003, eles mostram que estão dispostos a repetir os métodos de produção de alta qualidade que descobriram em uma de suas obras de grande sucesso.

[Review sem spoilers específicos - no máximo alguns comentários superficiais. Prossigam sem medo. =)]


Hotarubi no Mori e, filme lança em julho de 2011, conta a história da pequena Hotaru que, após ficar perdida em uma floresta durante uma visita a casa dos tios no verão, consegue encontrar a saída com a ajuda de um youkai (espírito) chamado Gin, com o qual acaba criando um vínculo afetivo e encontrando-se na floresta a cada verão. Gin, porém, devido a uma maldição não pode ser tocado por humanos, caso contrário desaparecerá; e conforme Hotaru vai crescendo e seus sentimentos vão evoluindo, cada encontro torna-os cada vez mais próximos e preenche de forma insubstituível suas existências.

A equipe envolvida na produção é a mesma envolvida na adaptação de outra obra de Yuki Midorikawa, Natsume Yuujinchou - Hotarubi é dirigido por Takahiro Omori e possui trilha sonora composta por Makoto Yoshimori, ambos figuras marcantes em várias das principais obras do Brains Base. O filme inclusive foi premiado no 66º Manichi Film Awards este ano na categoria de Melhor Filme de Animação.


Pois bem, imagino que após citar todos esses nomes a impressão é de Hotarubi é uma obra semelhante a Natsume Yuujinchou - ou que pelo menos consiga agradar o mesmo público, certo? Certíssimo. Hotarubi no Mori e foi um dos primeiros trabalhos da Midorikawa-sensei, e o conjunto de temas e estilo narrativo demonstram que este trabalho é uma espécie de base para as temáticas de Natsume.

O ponto de vista em Hotarubi é algo típico da autora: os personagens são envolvidos por sentimentos de solidão e insegurança, para aos poucos estreitarem seus laços e compartilharem seus dramas de forma suave, natural de forma como pouquíssimos autores conseguem (digo isso, mas da minha parte não consigo lembrar de um autor capaz de desenvolver uma narrativa lenta e gradual tão bem quanto a dessas adaptações de obras da Midorikawa-sensei).

Todos esse conceito em Hotarubi é trabalhado de forma muito otimista com os sentimentos humanos, onde os dois protagonistas descobrem o valor inestimável de seus encontros a cada ano e a necessidade de estar um perto do outro; Gin encontra um caminho para escapar da solidão ao conhecer Hotaru, ao passo de que Hotaru aos poucos descobre a força do vínculo que é criado entre os dois, a transformação do afeto em sentimento romântico e  a vontade de quebrar a barreira que é não poder tocar Gin. Isso tudo culmina num final que sabe tocar sem precisar levar o drama de forma manipulativa - os sentimentos do personagens simplesmente atingem o espectador sem esforço e uma sensação acolhedora e de esperança perdura.


No mais, a narrativa funciona em perfeito ritmo em 40 minutos - a princípio eu pensei que seria um pouco demais para a adaptação de um one-shot de mais ou menos 50 páginas, mas no final das contas o timing  das cenas não poderia ser mais acertado; lento, mas necessariamente lento para uma boa apreciação. Se parar para olhar, uma características marcante das obras do Takahiro Omori é o senso de tempo muito apurado: é um diretor que sabe coordenar um roteiro dentro do tempo que tem a seu dispor, aumentando ou diminuindo o ritmo conforme o tipo de obra.As cenas dos encontros de Hotaru e Gin a cada verão conseguem solidificar a sensação do vinculo entre eles para o espectador sem chegar ao ponto cansativo, e o clímax simplesmente chega sem que se perceba.

Há também o ótimo uso da trilha sonora, que reforça a serenidade do ambiente e suavidade do drama envolvido, e a dublagem, composta pelos novatos Uchiyama Kouki (que consegue lembrar muito o Kamiya Hiroshi neste papel de Gin eu quase pensei que fosse o Kamiya mesmo) e Sakura Ayane (no papel de Hotaru) não compromete em nada. A arte conta com a suave paleta de cores e cenários naturais detalhados que passam uma sensação fresca e calma. A animação não chega a ser um grande destaque, mas para um anime mais "parado" - no bom sentido - , não chega a fazer falta.


Por fim, é difícil falar de Hotarubi no Mori e sem fazer menção a Natsume Yuujinchou - afinal, este segundo já encontra-se em sua quarta temporada e é um sucesso tanto de crítica quanto comercial, o que com certeza foi um belo incentivo para que sua equipe experimentasse repetir a fórumla aproveitando outras obras da autora original. Praticamente 95% do que eu disse aqui sobre os méritos narrativos e técnicos do filme pode ser aplicado a Natsume - o que não significa que eu não tenha mais material para comentar em um futuro review sobre a série, claro.

Para aqueles que já são fãs das obras de Yuki Midorikawa, Hotarubi é mais do mesmo de forma extremamente bem lapidada; para os que ainda não conhecem o estilo da autora, é um excelente aperitivo perfeito para definir se o estilo agrada-lhes ou não. Um filme curto, mas cheio de méritos.

E para quem quiser conferir uma segunda opinião a respeito, há o artigo do @qwerty_br no Nahel Argama, leitura altamente recomendada.

(...Agora só falta o Brains Base continuar investindo em adaptações das obras do Ryohgo Narita. Segunda temporada de Durarara: devo esperar até quando?)

6 comentários:

  1. Saudações


    Me convenceste, Mary.
    Já lido o post do nobre Qwerty e, após ler o seu, notei que há muitos pontos igualitários nos dois posts citados, que fazem valer a conferida na obra.

    O texto está muito bem, realmente.
    E sem spoilers, como bem frisaste.



    Até mais!

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    1. No geral Hotarubi tem gerado opiniões semelhantes pela internet. A grande maioria resenha como um bom trabalho artístico que sabe criar um drama sensível; a divergência é mais quanto ao ritmo, alguns acham um pouco lento. No geral, foi sucesso de crítica.

      Espero que goste do filme. ^^

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  2. Estava pensando em escrever um review sobre esse filme. Mas,acabaria repetindo o que já disseram. Eu concordo com o que o seu texto. Citou o estúdio Brains como um dos que mais está crescendo. Isso se deve a decisões acertadas (ou pessoas competentes). Também gostaria de ver a segunda temporada de Drrr! Ryohgo Narita também é ótimo. Talvez, o grande segredo [isto é, se ele existir] seja a adaptação de boas obras (um bom staff também colabora,claro).

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    1. Honestamente, o Brains Base é atualmente meu estúdio favorito - desbancou o Bones do coração, hehe. Eles podem não ter a ousadia criativa de um SHAFT ou os rios de dinheiro de um I.G., por exemplo, mas é justamente como você disse: a equipe é boa e lida com material que por si só já é de primeira. O Takahiro Omori é simplesmente bom diretor por saber coordenar histórias em seu tempo certo - quem mais conseguiria mais de 40 episódios de Natsume todos em alto nível ou adaptar quatro volumes (se não me engano o número é esse) de Baccano! com uma das narrativas mais fantásticas de todos os tempos em 16 episódios?

      Mas DRRR está demorando demais para continuar, poxa. Embora eu acredite que seja um material difícil de adaptar.

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  3. Oi Mary Vanucchi!

    Cabelo,máscara,apreço pela narrativa com tons de sobrenatural são mais do que o necessário para lembrar Natsume Yuujinchou.
    A imaginação logo permeia "outra história de amor proibido",porém amadurecendo a cada encontro e não subitamente como num fatal encontro entre os apaixonados.
    E como não mencionar o nó no punho que os une através de um simbólico pano branco;assim como as experiências,hesitações,reflexões e confidências que são compartilhadas ao longo de anos de acordo com o passar do tempo que as imagens e o texto sugeriu.
    Soa como uma ida ao analista em uma sessão de uns 40 minutos.

    =]

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    1. Ótima descrição :D O nó no punho, o beijo na máscara, são todos simbolimos de vínculo e afeto muito fortes.
      Mas soa-me mais como uma viagem à alguma bela paisagem, capaz de marcar pela vida toda. Hotarubi em 40 minutos me marcou mais do que muito filme - isso utilizando da fórmula tão familiar de Natsume.

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