Natsume Yuujinchou: o mundo youkai visto sob as lentes da sensibilidade

É, eu comecei a escrever isto em Fevereiro; publiquei agora em fins de março/começo de abril conforme já havia avisado no post de Primeiras Impressões da Temporada de Animes Inverno 2012. (Na verdade eu temia que este texto saísse apenas em maio, mas já que comecei a planejar tão cedo aqui está. ^^) Sendo um anime recente tão bem feito porém tão pouco valorizado pelo público do Ocidente, senti que para fazer uma avaliação de Natsume com a precisão que desejava, seria uma boa ideia avaliar conforme a quarta temporada prosseguia e ajustar o texto aos poucos no final das contas não houve muito a acrescentar, mas anyway. Bom, após dois meses de trabalho aqui está o post pronto, sem spoilers. Aproveitem o texto. ;)

Obs: sim, o anime provavelmente vai para a quinta temporada - e se acontecer podem garantir que cobertura das novidades não faltará por aqui.

Obs[2]: sim, depois deste review eu vou cortar um pouco o fluxo de reviews de obras do Brains Base por aqui, xD.

Ah, as pérolas "desconhecidas"; comentar animes menos reconhecidos está tornando-se mais comum aqui no blog - algo que considero ótimo, para estimular os leitores a explorar novas possibilidades e procurar material que combine com seus gostos independente de ser popular ou não.

Mas enfim, estou protelando aqui. O importante é que temos neste post uma obra com boa base de fãs no Japão¹ mas que chega aqui no Ocidente recebendo pouca atenção: Natsume Yuujinchou, shoujo que alcançou o grande mérito de quatro temporadas bem-sucedidas, todas adequadas a uma fórmula executada ao longo de 52 episódio de forma constante e sensível exatamente da forma como tem que ser.

-Sobre a Obra-

Natsume Yuujinchou (Natsume's Book of Friends/O Livro de Amigos de Natsume) é um anime do estúdio Brains Base dirigido por Takahiko Omori (Baccano!, Durarara!!, Kuragehime), e trilha sonora de Makoto Yoshimori em suas quatro atuais temporadas (Natsume Yuujinchou - Zoku Natsume Yuujinchou - Natsume Yuujinchou San - Natsume Yuujinchou Shi). É baseado no mangá homônimo da autora Yuki Midorikawa, em publicação na LaLa DX desde outubro de 2005.

Natsume Yuujinchou conta a história de Takashi Natsume, um jovem órfão que possui a habilidade de ver espíritos (youkais) que outras pessoas não conseguem ver - habilidade que desde a infância o levou ao isolamento, sendo tomado por estranho por familiares e pessoas de seu convívio.

Após mudar-se para a casa dos Fujiwara, parentes distantes de seus pais, Natsume passa a ser perseguido por youkais com maior frequência. Porém, ao libertar de um selamento o demônio Madara - preso a uma forma de gato da fortuna - ele descobre que a origem dessas perseguições vem de um objeto que herdou de sua falecida avó, Reiko Natsume: O Livro dos Amigos (Yuujinchou). Reiko, que também era capaz de ver espíritos, escrevia os nomes dos youkais que derrotava neste livro, mantendo um controle sobre eles.

Sabendo disso, Takashi decide devolver os nomes a seus respectivos donos, com Madara - tratado como Nyanko-sensei - ao seu lado, à espera de tomar posse do livro após a morte do garoto.

A base de Natsume é uma narrativa episódica; ou seja, a cada episódio (ou mini-arco, como comentarei mais adiante) temos o encontro de Takashi com um diferente youkai, esteja ou não relacionado ao Yuujinchou.

Um dos marcos presente em cada episódio é um clima calmo e bucólico, com poucos e rasos momentos de ação e um humor básico e natural que ajuda a suavizar ainda mais a atmosfera do anime. Os cenários e paleta de cores suaves e a trilha sonora compõem um ambiente pacato de vilarejo que não poderia combinar melhor com a narrativa - e a cada temporada o estúdio Brains Base parece aperfeiçoar a parte técnica, que torna-se cada vez mais um belo trato aos olhos e ouvidos.

Mas a grande peculiaridade de Natsume é abrigar uma série de contos envolvendo youkais mas cujo foco está em sentimentos e relações bem humanos; amor, arrependimento, solidão e amadurecimento são alguns dos temas recorrentes. Quem aqui assistiu Hotarubi no Mori e? Os que afirmarem positivamente reconhecerão a narrativa reproduzida: é lenta e constante, expondo os conflitos e relações dos personagens sem forçar sentimentos e dramas, culminando em finais que não precisam de personagens explodindo em lágrimas para emocionar quem assiste; é gradualmente tocante e coloca um ponto otimista a se sentir. Como o Guardian Enzo do Lost in Anime comentou em seu post sobre Hotarubi, Yuki Midorikawa é uma autora visionária. Ela consegue emocionar e deixar uma sensação de esperança como poucos, e o essencial ao assistir suas obras é sentir.

Outro elemento digno de nota e que forma o fio condutor de todos esses episódios é o protagonista, Takashi. Ele é o garoto introvertido e inseguro que aos poucos aprenderá a aceitar o mundo youkai e, em sequência, a aproximar-se de outras pessoas sem medo; a típica "saída da casca", o amadurecimento que tantos bons animes mostram, mas nunca é cansativo de observar sendo bem-feito. 

Conforme os episódios avançam, Takashi precisa lidar com conflitos como a discordância moral com os exorcistas e o risco de que pessoas queridas acabem se envolvendo com os perigos do mundo dos youkais, e com o avanço das temporadas a presença de mini-arcos que forneçam um tempo maior para lidar com os conflitos mais acentuados fica mais frequente.

O restante do elenco também fornece suporte mais do que suficiente: Reiko é a figura do passado cujas ações deixaram marcas até o momento presente da série; Natori é o exorcista dividido entre suas as convicções de seu trabalho e o vínculo entre suas serviçais youkais; Tanuma e Taki são os amigos com menores habilidades para se aproximar do mundo youkai e que podem compartilhar do segredo de Takashi; Nyanko é o guardião "interesseiro" que aos poucos criará apego por seu protegido e respeito por seus sentimentos (embora sempre protestando a cada nome devolvido do Yuujinchou); e o casal Fujiwara são os pacatos senhores compreensivos com seu protegido, entre outros personagens.

Por fim, todas essas combinações voltadas a criar uma série relaxante e sentimental acabaram rendendo 52 episódios em que a fórmula não se torna cansativa e está sempre procurando novas formas de manter-se fresca - esta temporada mais recente, por exemplo, trabalhou com mais intensidade os encontros com os exorcistas, expandindo mais o horizonte de possibilidades entre estes personagens. Mas sim, há espaço para um certo ceticismo de "por quanto tempo mais essa fórmula continuará aproveitável?" - a quarta temporada já deixou a muitos a impressão de ser mais fraca, talvez por tentar arriscar mais nos mini-arcos (eu mesmo considero a mais fraca também - embora ainda tenha sido ótima e também o melhor anime da temporada de janeiro/2012 viram só? Eu acertei!)

Ainda assim, o que temos ao dispor até agora é uma série que até conseguiu a proeza de manter-se economicamente estável por tanto tempo e consegue desfrutar de uma ótima produção para adaptar muito de seu material original. Recomendo fortemente Natsume Yuujinchou para quem gosta de séries mais "paradas" e/ou sensíveis, uma pérola diferenciada dentro do universo shoujo (talvez o melhor anime que conheço desta demografia) capaz de tornar seu público fiel. E torçamos para que eventuais continuações mantenham o bom nível de qualidade.